"O investimento na conservação da natureza acrescenta entre mais 8 a 38 euros em valor económico por cada despesa, graças aos serviços ecossistémicos que apoiam a segurança alimentar, a resiliência e mitigação dos ecossistemas e do clima, e a saúde humana", declarou à imprensa em junho de 2022 a Comissão Europeia.
Com este denominador comum, de 22 a 24 de maio decorreu na cidade de Santander, em Espanha, um evento centrado na conservação dos anfíbios e répteis que reuniu dezenas de cientistas de numerosos países com um vínculo afim: a participação em projetos LIFE.
A Fundación Camino Lebaniego, da Cantábria, sob a égide do projeto Steps for LIFE, foi a organizadora do evento focado num debate sobre os desafios e oportunidades na Europa.
A Europa abriga 151 espécies de répteis e 85 espécies de anfíbios, muitas das quais, endémicas, o que significa que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo. De acordo com estudos realizados em 2009 pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em nome da União Europeia (UE), mais de metade de todas as Listas Vermelhas Europeias para anfíbios e répteis (59%) e 42% dos répteis estão em declínio, o que equivale a dizer que se encontram mais ameaçados do que as aves e os mamíferos europeus. A maior parte da pressão sobre estas espécies em declínio provém da destruição humana dos seus habitats naturais, articulada com as alterações climáticas, a poluição e a presença de espécies invasoras.
O presente evento permitiu partilhar os mais recentes métodos e técnicas para melhorar o estado de conservação dos anfíbios e répteis e dos seus habitats. O certame agregou beneficiários de projetos LIFE e principais partes interessadas de todos os Estados-membros. Os projetos LIFE desempenham um papel fundamental, proporcionando plataformas para trabalho em rede e sensibilização, promovendo importantes ações práticas de conservação. A conservação de anfíbios e répteis é complexa e abrange uma vasta gama de questões.
Ao longo dos dois dias de trabalho no auditório e em salas do palácio de la Magdalena foram abordados diversos tópicos, como as alterações climáticas e as áreas protegidas, o debate sobre se estarão mesmo a ser protegidas as áreas certas, o problema transversal das espécies exóticas invasoras, como lidar melhor com a pressão humana, bem como o futuro a longo prazo para os anfíbios e répteis tendo em conta a crescente pressão sobre os habitats através da fragmentação, urbanização e mudança das práticas agrícolas.
Outros itens de debate foram até que ponto os anfíbios e os répteis são tidos em conta nas agendas políticas nacionais e da UE, sendo certo que tudo isto resultou na apresentação de numerosos temas e painéis de discussão, em grupos constituídos para explorar os assuntos de forma mais profunda e fornecer conselhos práticos que possam nutrir políticas emergentes.
No dia 24 de maio houve uma saída de campo ao Parque Nacional dos Picos da Europa. A primeira paragem teve lugar na aldeia de Cicera, próxima das quedas de água de Agueras. Neste e noutros pontos de paragem, ao longo do caminho foi possível observar diversas obras do projeto Steps for LIFE, incluindo a criação de novos charcos, de pilhas de ramos e troncos para insetos xilófagos, sem esquecer as pedras amontoadas dedicadas a pequenos animais e plantas rupícolas.
Outro ponto de paragem foi o miradouro de Santa Catalina, seguindo-se o Habário de Pendes. Entre imponentes castanheiros centenários convergiu-se para o relatório que incluiu conclusões e recomendações às entidades envolvidas.
Uma curiosidade: a fotografia de um macho de lagarto-de-água, espécime endémica do Noroeste da Península Ibérica, que foi constante na informação na internet sobre este evento e recorrentemente apresentada durante as atividades em auditório ao longo dos dois primeiros dias, foi obtida no Parque Biológico de Gaia há duas décadas, no muro rústico que fica entre a quinta da Cunha, onde tem lugar o atelier da confeção de broa, e a ponte de madeira sobre o rio Febros. O autor, Jorge Pereira Gomes, recorda-se de ter levado cerca de cinco minutos a aproximar-se lentamente deste lagarto para conseguir a imagem, antes que o réptil fugisse.